sábado, 24 de abril de 2010

Celeiro de Músicos


Sábado passado, 17 de Abril, fui convidado pelos meus primos Johnny e João Paulo para tocar no aniversário de 4 anos da Orquestra Emunah, que é a orquestra da Assembléia de Deus do bairro de Vila Gumercindo, igreja onde nasci e fui criado, como já disse aqui em outros posts. Esses meus primos tocam violino nessa orquestra e outros dois também tocam lá, Pedro, bateria e o Alan, teclado. O regente dela é meu amigo de infância, o músico, saxofonista, Talysson Sidyel. Vou contar mais ou menos como nasceu a Emunah. Meu tio, Marco Antônio, ou Toninho pros mais chegados, era recém-casado quando voltou a frequentar novamente a Assembléia de Deus em Vila Gumercindo, isso lá pra 2002, 2003. Desde 1990 ele estava congregando na Assembléia de Deus Nipo-Brasileira, igreja famosa no circuito de músicos evangélicos da cidade pela forte demanda de arranjos de hinos tradicionais do antigo maestro de sua orquestra, Jeremias Oliver Rufinos, ou simplesmente, Mia, e também pela enorme orquestra que lá havia e que deve haver até hoje. Meu tio ficou lá na Nipo tocando trombone uns 11 anos, casou-se e voltou pra pequena igreja aqui do bairro. Antes, na Vila Gumercindo não havia orquestra, mas sim a saudosa banda "furiosa", de estilo marcial que executava os hinos em marchas e dobrados, influenciada pelas bandas militares e muito famosas nas Assembléias de Deus no século passado. Ele então, com toda bagagem e experiência da Nipo e alguns arranjos do Mia, quis montar uma orquestra na Vila Gumercindo. Como trabalhar com música em igrejas não é fácil, ele teve muitas dificuldades e impecílios. Incentivar a garotada a estudar música, pois tinha de formar novos músicos, lidar com os músicos mais velhos acomodados que tocaram em "furiosas" a vida toda, ouvir palavras desanimadoras dos mais conservadores, que na verdade tem medo de mudanças, de coisas novas. Enfim, não foi fácil, mas ele montou a Orquestra Emunah, que estreiou num culto de santa ceia num domingo pela manhã, em meados de 2006, ainda com o pastor Pedro Isaías. Eu nessa história toda fiquei na minha. Nessa época eu já estava começando a sair fora da instituição religiosa. Ainda frequentava a Vila Gumercindo, mas tocava no Mancini todas as noites e então, naturalmente acompanhava tudo de canto. Estava muito focado na profissão e em montar a Reteté Big Band. De fato, não tenho talento pra ajudar formar uma orquestra. Sei que meu "chamado" é outro.
De vez em quando, geralmente em eventos
comemorativos, meus primos ou o Talysson me chamam pra ir lá tocar com eles, e eu vou, com o maior prazer. Reencontro pessoas bacanas, toco com tios e primos, com colegas e amigos, enfim, me sinto super bem, em casa. Nessa última visita, fiquei muito feliz em ver que em cada naipe da orquestra tem um músico que está estudando seriamente em alguma escola, seja EMESP, Municipal ou Bacareli. Na época em que tocava na igreja, isso era muito raro, pouquíssimos estudavam música em escolas boas como essas. A igreja evangélica pentecostal, desde a década de 80, tem sido um dos maiores celeiros de músicos do país. Vejo pela Reteté Big Band, todos os integrantes passaram por ela, e alguns ainda passam por lá. Essas igrejas servem meio de que "categoria de base" de músicos. Eles começam na igreja, alguns passam a estudar numa escola de música e poucos profissionalizam-se. Pra mim isso é uma das poucas coisas boas que ainda existem na igreja evangélica, já que a manipulação das pessoas e a preocupação com o "querer mais" é visivelmente presente nela. Tudo bem que os arranjos são bem simples, pra fácil assimilação da congregação, com os ritmos e harmonias da moda, e o papo dos líderes continua o mesmo, "impactar o poder de Deus em sua vida". Mas, a música honesta é realmente algo Divino, e eles fazem um trabalho voluntário de coração. Parabenizo meu tio e o Talysson, pela coragem de dar "murros em ponta de faca". Eles insistiram e eu puder ver um pouco do resultado, novos músicos chegando na área. Parabenizo à todos da Emunah. Continuem se esforçando nos estudos, estando cada vez mais em contato com a música. E deixo aqui meu incentivo à todos os músicos iniciantes. Estudem música, porquê a arte é uma das maiores riquezas dessa Terra.

Abraços